Conversas Simples. Estrevista a Dom Nuno Brás

10.00

Autor: Francisco Gomes

Prefácio: Dom Manuel Clemente, Cardeal-patriarca de Lisboa

Edição/reimpressão:

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Editor: O Liberal

Francisco Gomes apresenta o seu livro “Conversas Simples”que aborda o pensamento e as opiniões do homem que hoje lidera a Diocese do Funchal, D. Nuno Brás. Assim como sobre alguns dos assuntos que têm marcado a realidade mais recente da Igreja. A obra, editada por O Liberal, destina-se a todos os leitores, e o autor garante que “esta não é uma obra política”.

Tribuna da Madeira (TM) – Será lançado a 25 de novembro, o livro “Conversas Simples”. A que tipo de leitor se destina?

Francisco Gomes (FG) – A todos os leitores, especialmente aqueles interessados em conhecer mais um pouco sobre o pensamento e as opiniões do homem que hoje lidera a Diocese do Funchal sobre alguns dos assuntos que têm marcado a realidade mais recente da Igreja. Creio que é um livro que, pela sua apresentação e formato, convida a uma leitura agradável, a qual pode ser relevante, especialmente se atendermos à exigência da Missão que hoje recai nos ombros do Dom Nuno. Esta, e em muito, tem sido tornada mais pesada pela instabilidade e volatilidade que foram introduzidas em grande escala no quotidiano das nossas sociedades e de toda a Igreja Católica pelo advir da globalização, da explosão tecnológica e do surgimento de vários assuntos de profunda clivagem aos quais a Igreja, tal como nenhuma outra instituição humana, pode ficar indiferente.

TM – O que o levou a escrever este livro sobre o Bispo do Funchal? Como surgiu esta decisão?

FG – Por duas razões diferentes. Por um lado, o facto de estarmos perante uma figura carismática e que irá, indubitavelmente, influenciar o presente e o futuro próximo da Igreja madeirense, e, por conseguinte, ajudar a definir muitas das dinâmicas importantes que contextualizam e contextualizarão a nossa acção como sociedade, nas suas várias vertentes. Por outro lado, o dever que sinto de, como escritor e observador social, registar as palavras das figuras mais destacadas do nosso tempo. Já tive o prazer de o fazer em anteriores publicações, desenvolvidas em formato semelhante, com o historiador José Pereira da Costa, o fotógrafo João-Pestana e o bispo-emérito Dom Teodoro de Faria, pelo que não poderia deixar de abraçar com entusiasmo a oportunidade de o fazer, uma vez mais, mas, desta feita, com o bispo Dom Nuno Brás.

“A Igreja não é uma instituição imobilizada e insensível”

TM – Na sua nota em “Conversas simples”, refere que D. Nuno Brás “é um homem muito atento a quem tem à sua frente e aos desafios que tem à sua responsabilidade”. Perante a situação atual que se vive, em que a Igreja é, por muitos, vista como um refúgio, um local onde a ajuda aos necessitados ainda é apelada, quais são – e perante a sua visão na elaboração deste livro – os maiores desafios que o Bispo do Funchal terá nos próximos tempos?

FG – Eu não tenho a legitimidade de apontar quais os desafios que a Igreja deve enfrentar, nem como o deve fazer, pois estamos perante uma instituição milenar, com tempos próprios e que não pensa, nem fala, de forma uníssona. Aliás, toda a história da Igreja, desde a sua própria fundação, é marcada por dissidência interna, a qual assumiu, em determinadas alturas, uma expressão violenta. Dito isto, acredito que o presente oferece uma oportunidade particularmente relevante para a Igreja assumir, com ainda mais intensidade, a sua vocação de Misericórdia, respondendo, com compaixão, a questões que não são mais evitáveis, tais como o papel da mulher na Igreja, a postura da Igreja perante os divorciados e os homossexuais, a relação da Igreja com os métodos contraceptivos, a mensagem da Igreja para os refugiados e todos aqueles que, por várias razões, habitam as periferias morais e éticas das sociedades, e, por fim, a visão da Igreja sobre os profundos desequilíbrios económicos e ambientais que continuam a flagelar o nosso mundo, causando, todos os dias, mortes evitáveis às chamas da fome, da doença, da droga, da violência, da intolerância e do extremismo.

TM – Perante esta obra, e após a leitura da mesma, o que é que o leitor poderá descobrir. Ou de que modo poderá ser cativado para os novos caminhos apontados à Igreja?

FG – Apesar de ser uma obra que, intencionalmente, evitou ter uma dimensão inibidora, são muitas as mensagens nela incluídas. Todavia, creio que há uma que, pela natureza dos dias em que vivemos, assume uma importância especial e contextualiza todas as outras, nomeadamente a de que a Igreja não é uma instituição imobilizada e insensível às características e expectativas do tempo em que vive. A Igreja é, naturalmente, uma instituição pensativa e reflexiva, mas também uma que está extremamente ciente da crucial necessidade de ser, sempre, uma força de acção, de mudança e de resposta aos problemas dos homens e das mulheres, quer aqueles que se apresentam numa escala global (como as disparidades económicas entre os estados e o desrespeito generalizado pelo bem ambiental), mas também aqueles que se expressam nas escalas mais locais (como são a violência doméstica, a pobreza escondida, a precaridade profissional, a mendicidade e a discriminação de todos os tipos, quer a explícita, quer a implícita). De uma forma muito própria, mas sempre muito convicta e, acima de tudo, incisiva, a Igreja expressa a sua voz sobre estes e outros temas. Compete aos cidadãos e àqueles que os lideram ter a humildade de ouvi-la e segui-la.

TM – Este livro pode ser visto, ou interpretado, como uma obra com um ‘toque’ de política ou não?

FG – Se entendermos a política apenas como acção partidária, não, esta não é uma obra política. Aliás, e como está expresso de forma muita clara no livro, o Dom Nuno rejeita a ideia de que a Igreja deve estar preocupada em definir ou condicionar o pensamento e a conduta dos partidos, pois isso seria colocar em causa uma das observações mais revolucionárias de Jesus Cristo, nomeadamente a de dar a César o que é de César e a Deus o que é de Deus. Todavia, o bispo Dom Nuno é também um homem com enorme sensibilidade para os tempos em que vive, e, nesse sentido, recorda sabiamente as palavras de Paulo VI de que a política é uma das formas maiores de caridade. Por isso, torna-se óbvio que, porque influencia, e até altera, o contexto das sociedade em que está implantada, a Igreja e os católicos acabam por assumir um peso político que não deve ser camuflado ou negado, mas sim abraçado e utilizado para ajudar as comunidades humanas a crescer de forma pacífica e sustentada nas linhas que as aproximem dos ideais de Justiça, Solidariedade, Compreensão e Misericórdia que estão professados na Doutrina Social da Igreja.

TM – Quais são as expectativas para o dia do lançamento do livro “Conversas simples”, editado por O Liberal, a 25 de novembro, pelas 18 horas, no Museu Casa da Luz?

FG – Atravessamos tempos muito peculiares, que têm retirado a todos os aspectos da vida, pequenos e grandes, o humanismo e os afectos que nos definem e que nos distinguem como seres humanos. Neste contexto, torna-se muito difícil saborear momentos como a apresentação pública de uma obra, pois toda a dimensão humana que deve marcar a fase final do percurso desafiante que é a preparação de um livro está invariavelmente comprometida. Todavia, ‘O Liberal’ tem feito esforços redobrados para que estas ocasiões possam ser vividas com dignidade e estou certo que, uma vez mais, a editora e as suas excelentes profissionais irão assegurar a todos os pressentes um momento que ficará na memória e que a obra e o seu principal sujeito certamente merecem.

 

 

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